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Comentário do Floro:
Tema muito interessante abordado pelo colega Ricardo Carvalho sobre nossa identidade.
Nos vestimos com diversos papéis em nosso dia-a-dia, por demandas diversas.
Alguns momentos esbarramos em dúvidas sobre nossa real identidade, sobre nossas representações perante nossos contatos, dos mais diversos.
A manutenção da coerencia entre nossos valores e nossos atos, serão nosso diferencial. São estas posturas que ficarão marcadas nas pessoas e instituições que convivemos.
Havendo esta coerência, pois mais diferentes que sejam os papéis que representamos, estaremos sendo vistos e lembrados pelos valores que assumimos como nossos.
Com esta coerência, estaremos alinhados com nossa forma de ser.

Vejam o artigo abaixo:


Entre Duas Vidas: dilemas de um executivo contemporâneo

Por Ricardo Carvalho, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral

Com que roupa estou vestindo agora meu Eu? A dúvida se instala quando não sei mais quem sou entre meu Eu Corporativo e meu Eu Pessoal. Os papéis se misturaram entre tantas solicitações. Aqui considerando sobretudo a demanda do ego que nos convida à ilusão de nos confundirmos com aquilo que temos. Sou aquilo que represento, a empresa e o papel corporativo que sou obrigado a vestir todas as manhãs?

Em tempos de carnaval é preciso saber distinguir entre a fantasia e a vida real. O que é real? Nada mais real do que ser autêntico nos parece indicar a bula para vivermos neste mundo cada vez mais artificial. Mas então me pergunto: serei aceito como sou? Eis a questão dilemática daquele que fez da Persona (máscara da comédia grega/ representação) seu modus-operandi.. No entanto, um dia a máscara cai ou não suportamos mais usá-la.

Fato que as pessoas confiam mais naqueles que passam credibilidade por meio do exemplo e, se a confiança é a palavra chave para conseguir equipes de alta performance, logo ‘Ser’ verdadeiro, neste mundo cada vez mais sedento de ética, parece estar na moda.

Contudo, ser verdadeiro consigo mesmo não é fácil! Esta atitude significa enfrentar limites e baixar a bola de uma certa onipotência que o “Eu Corporativo” tende a alimentar. Exige escolhas e renúncias muitas vezes dolorosas. O nosso compromisso, afinal, é conosco ou com o que os outros querem de nós?

Por outro lado, se essa clivagem do Eu é razão para alcançar as metas, as pesquisas em neurociências têm demonstrado justamente o contrário; estar plugado o tempo todo (no Eu Corporativo, no virtual, no palm e no laptop) cria uma espécie de síndrome da atenção difusa. Ou seja, o sujeito presta atenção em tudo e acaba não focando em nada. A overdose de estímulos nos entorpece e retarda nossa capacidade de análise.

Hoje, a intensidade do trabalho é exponencial. Levar trabalho para casa virou rotina no mundo executivo. Desta forma, não há Eu Pessoal que se sustente. Um certo distanciamento do Eu Corporativo faz com que ‘ele’ venha a funcionar melhor. Recarregar a bateria é necessário. Será que a falta de férias razoáveis — que parece se alastrar no mundo corporativo — no Japão intensifica o fenômeno da “implosão interna chamada de “Karouchi” ou “Burn-out”? Não perca mais tempo: aproveite para “voltar’ para o Eu Pessoal sem medo de ser feliz. Ou o famigerado estresse pode bater na sua porta e as consequências podem ser até fatais. Em outras palavras: sufocar o Eu Pessoal em prol do Eu Corporativo tem um custo altíssimo para a corporação e para nós mesmos.

Tirar férias do Eu Corporativo faz com que ‘ele’ se fortaleça e retribua trazendo resultados mais consistentes e eficazes. O Eu Pessoal agradece, pois afinal são irmãos e interdependentes. Algo porém pode ser o norteador em busca de um certo equilíbrio dessas “Duas Vidas”: o conjunto de valores que estabelecemos para nós mesmos. Como toda corporação tem sua missão e seus valores, devemos também estabelecer o mesmo. Isto feito fica mais clara a base de sustentação de nossos papéis e o equilíbrio que temos que ter entre eles.

Para finalizar, voltemos à epígrafe deste texto, e pensemos como Sócrates: “a Ética pode ser entendida como uma certa maneira de ser claro consigo mesmo” . Ser claro consigo mesmo é um comportamento ético, ainda que muitas vezes não seja tão atraente assim se olhar no espelho.

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